Negociações com o governo de Buenos Aires levaram a ministra da Indústria, Débora Giorgio, a liberar cerca de mil licenças de importação para produtos brasileiros, das mais de 2 mil retidas nos últimos meses na alfândega do país vizinho. Mas, entre as licenças retidas, ainda há cerca de 300 relativas à venda de máquinas e implementos agrícolas, o que levanta temor entre empresários de cancelamento de encomendas. Irritada com as barreiras, a presidente Dilma Rousseff determinou a seus ministros uma negociação severa com os argentinos.
Dilma, segundo um assessor próximo, considera inadmissível o uso recorrente de barreiras não tarifárias pela Argentina contra produtos brasileiros, após garantias do governo vizinho de que não aconteceriam novamente atrasos superiores a 60 dias na liberação das licenças de importação. Em março, menos de dois meses após a visita de Dilma à Argentina, o governo local ampliou, de 400 para 600 itens, a lista de produtos com exigência de licença prévia.
Dilma orientou seus ministros a cobrar dos argentinos uma solução rápida para as retenções de produtos brasileiros na fronteira, onde se acumulam máquinas agrícolas e caminhões com produtos alimentícios. O governo brasileiro tem tentado fazer a negociação discretamente, para evitar que o tema seja capturado pela conturbada campanha eleitoral no país vizinho, mas enquanto o Itamaraty é contrário a retaliações, setores do governo já defendem ameaças de medidas retaliatórias.
"Queremos paz com os vizinhos, mas eles acabam sempre exagerando nas medidas que tomam", queixou-se o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Ele diz que, embora os argentinos comprem mais do Brasil do que vendem ao país, o comércio total do sócio do Mercosul foi superavitário, em quase US$ 10 bilhões no ano passado.
O governo tem avaliação diferente: há informações de perda de reservas continuada no país vizinho, agravada com o período de eleições, e o governo da Argentina, sem financiadores estrangeiros, estaria usando parte das reservas para pagar a dívida externa, enfrentando pressões inflacionárias e em meio a incertezas sobre o nível de investimento. O governo brasileiro não quer, com cobranças públicas, criar mais dificuldades econômicas e agravar o clima político e pôr em xeque o governo Cristina Kirchner. Mas há sinais discretos de perda de paciência com os argentinos em Brasília.
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