Entre janeiro e outubro deste ano, o país importou US$ 507 milhões em produtos lácteos
O início da safra em importantes regiões de produção do país e as crescentes importações de leite em pó colocam pressão no mercado nacional de leite. Neste mês, os produtores brasileiros receberam, em média, R$ 0,822 pelo litro do leite (entregue em outubro), segundo a Scot Consultoria. No mês anterior, haviam recebido, em média, R$ 0,841 por litro.
Rafael Ribeiro, analista da Scot, afirma que a oferta cresceu com o aumento da produção nas bacias leiteiras do Centro-Oeste, Sudeste, Nordeste e Norte do país. Este ano, acrescenta, as chuvas atrasaram um pouco - tradicionalmente começam em setembro -, mas isso não impediu a pressão de oferta.
De acordo com Ribeiro, a demanda menor neste período do ano também influencia a queda dos preços. "O atacado [de leite longa vida] está sem sustentação desde outubro", afirma. A razão é que houve formação de estoques no varejo, segundo ele.
Pelo levantamento da Scot, o preço do leite longa vida no varejo paulista caiu de R$ 2,40, em média, em outubro para R$ 2,32 o litro em novembro. No atacado, saiu de R$ 1,86 para R$ 1,79 o litro na mesma comparação.
Laércio Barbosa, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV), afirma que o produto começou a cair em setembro, depois de atingir pico de R$ 1,95 o litro no atacado. Hoje está na casa dos R$ 1,65, informa. Para ele, "a safra influencia", mas a recente queda está relacionada também ao avanço das importações de leite em pó este ano. "As empresas deixaram de produzir leite em pó e produziram mais longa vida", diz.
Entre janeiro e outubro deste ano, o país importou US$ 507 milhões em produtos lácteos, um aumento de 113,4% sobre igual período de 2010, segundo dados do Ministério da Agricultura.
O real valorizado ante o dólar durante a maior parte do ano tirou a competitividade do produto brasileiro e acabou favorecendo as exportações de lácteos dos vizinhos do Mercosul, como Uruguai e Argentina, ao Brasil.
As compras do Uruguai foram as que mais cresceram, já que com a Argentina vigora um sistema de cotas que limita as importações de leite em pó daquele país. Neste ano, os argentinos tentaram ampliar a cota de 3.300 toneladas mensais para até 5 mil toneladas, mas o Brasil não concordou. Só este mês, um acordo entre os setores privados dos dois países definiu a cota em 3.600 toneladas por mês.
Segundo Bruno Lucchi, assessor técnico da Comissão Nacional da Pecuária de Leite da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), as vendas de leite em pó do Uruguai para o Brasil ganharam espaço neste ano. Em setembro, foram 4.475 toneladas e em outubro, 5.500 toneladas, um recorde.
Além de incomodar o setor de leite brasileiro, o avanço uruguaio também já gera reclamações dos argentinos. De acordo com Lucchi, em 2008, quando o Brasil importou 30 mil toneladas de leite em pó, 74% foram provenientes da Argentina e 15% do Uruguai. Este ano, até outubro (74,7 mil toneladas), 54,5% vieram da Argentina e 39% do Uruguai.
Ele observa que as importações de queijo também cresceram este ano, aumentando a concorrência com a indústria nacional.
Ribeiro, da Scot, diz que a expectativa é de que oferta de leite para processamento siga em alta até fevereiro. A notícia favorável aos produtores é que os custos devem cair, já que as boas condições das pastagens reduzem a necessidade de suplementação com grãos.
Fonte: Valor Econômico – Edição: 29/11/2011
Postado: Leomar Martinelli
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