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Polícia - 17/12/2015 - Justiça autoriza prorrogação de inquérito sobre mãe de Bernardo


Pedido foi feito pelo delegado Marcelo Lech, responsável pela investigação

reconstituição odilaine boldrini caso bernardo três passos (Foto: Jonas Campos/RBS TV)

 

A Justiça de Três Passos autorizou, nesta quinta-feira (17) a ampliação de 60 dias do prazo para a conclusão do inquérito que apura a morte de Odilaine Uglione, mãe do menino Bernardo, no Noroeste do Rio Grande do Sul. O pedido foi feito pelo delegado responsável inquérito, Marcelo Lech.

 

"Neste ano, é certo que não dá [para concluir a investigação], porque ainda temos testemunhas para serem ouvidas e mais diligências", afirmou o delegado, que na terça (15) e quarta-feira (16) conduziu os trabalhos de reconstituição.

 

Odilaine foi encontrada morta em 2010 dentro da clínica do ex-marido, Leandro Boldrini. As investigações conduzidas na época concluíram que ela teria cometido suicídio. No entanto, a versão é questionada pela família de Odilaine e o inquérito foi reaberto em maio deste ano. Ao todo, 50 testemunhas já foram ouvidas. Novas perícias na arma do crime e na carta supostamente deixada pela mãe de Bernardo foram solicitadas e o corpo dela foi exumado.

 

Reconstituição

 

A reconstituição da morte de Odilaine Uglione, mãe do menino Bernardo Boldrini, começou na terça-feira  em Três Passos. Além de Leandro, outras quatro testemunhas participaram da reprodução simulada dos fatos.

 

O depoimento servirá de base para a reconstituição que tem o objetivo de averiguar se os fatos no dia da morte de Odilaine se desenrolaram conforme relataram as testemunhas e personagens do caso à polícia.

 

Após o final dos trabalhos, na quarta, o advogado da família da mãe de Odilaine, Marlon Taborda disse ter percebido "contradições" entre as versões do fato apresentadas pelo pai de Bernardo, Leandro Boldrini, ex-marido da vítima e suspeito do assassinato, no depoimento dado à Polícia Civil e na atividade.

 

"Constataram-se contradições quanto a eventuais situações, especialmente quanto ao disparo da arma de fogo, quanto ao deslocamento do então esposo dela da sala para fora, quanto ao tempo que ele ficou ali, e posso lhe dizer que também saí com mais dúvidas dali", afirmou  . Questionado, o advogado de Boldrini preferiu não se manifestar.

 

Durante a reconstituição, Boldrini se recusou a caminhar na rua. Em depoimento dado em 10 de fevereiro de 2010 ele descreveu que conseguiu deixar a sala de seu consultório antes que ocorresse o disparo. Em seguida, deixou o prédio e correu para o consultório de um amigo, o que também seria representado nesta tarde.

 

Ele se recusou completar um percurso de aproximadamente 100 metros por orientação de seus advogados, por questão de segurança. Boldrini chegou ao local por volta das 13h30 em uma viatura da Susepe, acompanhado de um forte esquema de segurança, principalmente na área onde se aglomeram curiosos e a imprensa. Cerca de 25 policiais militares acompanham a reconstituição.

 

O médico veio direto da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) ainda na madrugada desta quarta-feira e desceu do camburão com colete a prova de balas. Chegou com fome e sede. Em seguida, tomou água, comeu um biscoito, mas se recusou a comer uma fruta que lhe foi oferecida. Em relação as outras aparições em público, o médico está visivelmente mais magro. Ao verem o médico, populares que acompanhavam a reconstitução, começaram a gritar "assassino, assassino".

 

Ao chegar ao prédio onde funcionava sua clínica, demostrou estar um pouco preocupado com as pessoas que estavam dentro do prédio, por causa da segurança. Perguntou: "quem é que está aí, quem é que está aí?" Ao ser informado de que se tratava de peritos do Instituto Geral de Perícias (IGP) e policiais, se tranquilizou. Em seguida, relatou para um perito o que fez antes, durante e depois da morte de Odilaine.

 

Após cerca de duas horas em Três Passos, Boldrini foi reconduzido para a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Em seguida, chegou ao prédio a secretária de Boldrini, Andressa Wagner, que também vai participa da reconstituição.

 

Caso foi reaberto em 2010 a pedido da família

 

O processo faz parte da nova investigação que iniciou em maio deste ano. A pedido da família de Odilaine, a Justiça determinou a abertura do caso para apurar se a morte dela, em 2010, foi mesmo suicídio, versão concluída pela polícia e contestada pela família.

 

No primeiro dia, a recomposição durou cerca de três horas. A primeira etapa foi realizada no consultório de Boldrini, onde Odilaine foi encontrada morta. O local fica no Centro Clínico São Matheus. Cinco testemunhas, todas pacientes que estavam no consultório, relataram os fatos.

 

Elas foram ouvidas pela polícia e pelo Instituto Geral de Perícias (IGP) e depois reproduziram a versão apresentada no depoimento. Em um dos momentos, os peritos e testemunhas vieram até a calçada em frente ao prédio para mostrar por onde Boldrini teria saído logo após o tiro.

 

Tudo foi gravado e fotografado pelos peritos. Um forte esquema de segurança foi montado, as ruas próximas foram interditadas e o prédio foi isolado para o andamento do trabalho. Na frente do edifício, faixas e cartazes com fotos de Odilaine e do filho Bernardo foram colocadas pela comunidade, pedindo justiça.

 

Conclusão de inquérito deve ficar para 2016, diz delegado

 

Após a realização dos trabalhos, o delegado responsável pelo caso, Marcelo Lech, afirmou que pediu a prorrogação do prazo para a conclusão do inquérito, que deverá ficar para 2016. "Neste ano, é certo que não dá [para concluir a investigação], porque ainda temos testemunhas para serem ouvidas e mais diligências", afirmou o delegado.

 

A mãe de Bernardo teria se suicidado dentro do consultório com um tiro, segundo a investigação inicial do caso, em 2010. Mas a versão é contestada pela família da mulher e o inquérito foi reaberto em maio deste ano. Ao todo, 50 testemunhas já foram ouvidas. Novas perícias na arma do crime e na carta supostamente deixada pela mãe de Bernardo foram solicitadas e o corpo dela foi exumado.

 

Corpo foi exumado em agosto de 2015

 

O corpo de Odilaine Uglione foi exumado na manhã de 11 de dezembro em Santa Maria. Em maio, a Justiça determinou, a pedido da família de Odilaine, a reabertura da investigação sobre a morte dela. Desde a morte de Bernardo, em abril do ano passado, a família de Odilaine tenta provar que ela também foi morta por Leandro Boldrini.

 

O pai do Bernardo está preso pelo assassinato do menino. Também são acusados a madrasta do garoto, Graciele Ugulini, e os irmãos Edelvânia Wirganovicz e Evandro Wirganovicz. Eles respondem por homicídio qualificado e ocultação de cadáver, entre outros crimes.

 

Relembre o caso

 

- O corpo de Bernardo foi encontrado pela polícia no dia 14 de abril de 2014, enterrado em um matagal de Frederico Westphalen, a cerca de 80 km de Três Passos, onde a família residia. Ele estava desaparecido desde o dia 4 de abril.

- Bernardo Boldrini foi visto vivo pela última vez no dia 4 de abril de 2014 por um policial rodoviário. No início da tarde, Graciele foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. A mulher trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.

- Um vídeo divulgado em maio do ano passado mostra os últimos momentos de Bernardo. Ele aparece deixando a caminhonete da madrasta, Graciele Ugulini, e saindo com ela e com a assistente social Edelvânia Wirganovicz. Horas depois, as duas retornam sem Bernardo para o mesmo local.

- Segundo as investigações da Polícia Civil, Bernardo foi morto com uma superdosagem do sedativo midazolan. Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e, depois, teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo. A denúncia do Ministério Público apontou que Leandro Boldrini atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Conforme a polícia, ele também auxiliou na compra do remédio em comprimidos, fornecendo a receita. A defesa do pai nega.

- Em vídeo divulgado pela defesa de Edelvânia, ela muda sua versão sobre o crime. Nas imagens, ela aparece ao lado do advogado e diz que a criança morreu por causa do excesso de medicamentos dados pela madrasta. Na época em que ocorreram as prisões, Edelvânia havia dito à polícia que a morte se deu por uma injeção letal e que, em seguida, ela e a amiga Graciele jogaram soda cáustica sobre o corpo. A mulher ainda diz que o irmão, Evandro, é inocente.

 

Fonte: Globo.com

Postado: Clécio Marcos Bender Ruver
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