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Leite - 15/12/2010 - Walmart e redes gaúchas, em pé de guerra


A Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) entrou novamente em rota de colisão com o Walmart

A Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) entrou novamente em rota de colisão com o Walmart ao acusar a rede americana, líder do setor no Rio Grande do Sul, de promover uma "invasão predatória" no país. O motivo da controvérsia foi uma oferta de leite longa vida, promovida na semana passada pela supermercadista.

Segundo a Agas, o Walmart vendeu leite longa vida abaixo do custo e depois teria punido, com o cancelamento de novos pedidos, um fornecedor que se negou a atender a uma encomenda em volume "extraordinário" de leite a preço abaixo do custo.

Em nota distribuída ontem, a Agas afirmou que "uma empresa que chegou há poucos anos no Brasil está disposta a criar um tumulto mercadológico no setor supermercadista". Em entrevista ao Valor, o presidente da entidade, Antônio Cesa Longo, confirmou que o alvo do protesto é o Walmart. Segundo ele, enquanto o preço médio do litro do leite longa vida pago para a indústria leiteira é de R$ 1,52, a rede ofereceu o produto nas prateleiras a R$ 1,34.

Esta é a segunda vez que a associação entra em atrito com a supermercadista. Em novembro de 2009 a entidade ameaçou organizar uma manifestação, com fechamento de lojas, para que o Walmart renunciasse à recuperação de créditos de ICMS sobre produtos submetidos ao regime de substituição tributária. Para a Agas, a situação havia criado um quadro de concorrência desigual e, como resultado, a rede abiu mão do direito que havia obtido na Justiça.

Agora, diz Longo, o Walmart está usando o "poderio de compra para neutralizar a concorrência leal", o que ameaça aumentar a concentração do setor e deixar os consumidores e fornecedores "dependentes das atitudes de poucas empresas que ditarão as regras de mercado". A oferta que deflagrou o protesto ocorreu na cidade de Bento Gonçalves e obrigou a rede Apolo, do próprio presidente da Agas, a baixar o preço do leite longa vida de R$ 1,69 para R$ 1,39, segundo o empresário.

No fim da tarde, o Walmart disse, também por comunicado, que "estranha" a nota emitida pelo presidente da Agas e afirmou que a oferta promovida pelo supermercado da bandeira Nacional foi uma "resposta" a preços praticados pela concorrência local. "Tais ações promocionais são muito usuais e amplamente praticadas por varejistas no mercado brasileiro", afirmou a rede, garantindo ainda que "segue realizando normalmente" os pedidos ao fornecedor envolvido.

Longo não revelou qual indústria teria sido punida por se negar a entregar a encomenda "seis vezes superior" ao volume usual, mas segundo o Valor apurou, trata-se da cooperativa Santa Clara, de Carlos Barbosa (RS), que não tinha nenhum diretor disponível ontem para comentar o fato. Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado (Sindilat), Carlos Feijó, porém, o caso foi "pontual" e a entidade não recebeu qualquer denúncia dos associados sobre o assunto.

Segundo Feijó, em função da escala de compras a política comercial do Walmart é mais "agressiva" do que as demais redes, mas também é "honesta". A supermercadista americana é a maior do setor no Rio Grande do Sul, com participação de 33% sobre o mercado e faturamento local estimado pela Agas em R$ 3,9 bilhões em 2009, à frente do Zaffari (R$ 2,1 bilhões) e do Carrefour (R$ 883,3 milhões). Mesmo assim, o presidente do Sindilat considera que o protesto da associação tem caráter preventivo para, evitar que a situação se "alastre". A rede Apolo, de Longo, é a 24ª no ranking da Agas, com receita de R$ 61,4 milhões em 2009.

 

Fonte: Valor Econômico – Edição: 14/12/2010

Postado: Leomar Martinelli
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