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Leite - 19/12/2010 - O atípico ano de 2010 chega ao fim equilibrado


O ano de 2010 foi um ano atípico para a atividade leiteira nacional

O ano de 2010 foi um ano atípico para a atividade leiteira nacional devido, principalmente, à antecipação do pico de preços e queda desses durante a entressafra. Entretanto, no fim do ano, entre setembro e outubro, o mercado se ajustou e a expectativa é de que o ano termine assim.

A explicação para esse comportamento inicia-se com a oferta. No primeiro semestre tivemos quase 10% a mais de leite frente ao mesmo período de 2009. Além disso, balança comercial não ajudou, pois houve entrada de leite superior à quantidade que saiu, elevando a oferta já em excesso. Por fim, devido a um forte crescimento da produção no 2o semestre de 2009, possivelmente entramos no ano de 2010 com relativo volume estocado e elevado patamar de disponibilidade per capita de leite.

Aliado ao aumento da oferta, a indústria de laticínios, principalmente a de UHT, elevou preços ao produtor no início do ano, esperando outro 2009, sem que o mercado apresentasse os fundamentos para tal. Como a oferta aumentou muito, a estratégia não funcionou e os preços mais altos no atacado e varejo só serviram para piorar a situação.

No 2o semestre, entre setembro e outubro, o mercado se ajustou. A queda dos preços desde maio reduziu os investimentos na produção; a alta dos insumos e preços baixos piorou a antes favorável relação da troca; e as intempéries climáticas causadas pelo La Niña causaram severa estiagem e atrasaram a safra do Sudeste e Centro-Oeste, que não teve fundamentos para vir muito forte. Os preços pagos aos produtores desde setembro têm tido certa estabilidade e/ou leve alta.

Em termos de demanda, temos de considerar a força do nosso mercado interno: a elevação de renda da população, a disponibilidade de crédito e o aumento do número de empregos. A previsão para 2010 é que nosso PIB cresça 7,3% ou até mais e, segundo dados da FGV, a estimativa para 2011 é de 4,6%. Em outras palavras, o mercado doméstico em ascensão, ainda mais com o dólar nesses patamares, deve continuar a ser o grande foco das atenções.

Atualmente e desde meados de outubro, com a oferta restrita e os indicadores de demanda ainda fortes, o mercado se equilibrou. Segundos agentes de mercado consultados pelo MilkPoint, as vendas voltaram a ocorrer em bons volumes e os preços se reajustaram. Ainda segundo eles, as empresas não possuem significativas quantidades de leite estocada de qualquer produto, sendo esse um importante fator de estabilidade de preços.

Os mercados de leite longa vida e leite em pó têm apresentando estabilidade de preços desde início de novembro, com preços no atacado variando de R$ 1,40-1,65/litro e R$ 8,50-10,50/kg, respectivamente, dependendo do fabricante e região. O mercado de queijos se "adequou", sofrendo leve deflação para R$ 9,80 a 11,50/kg, já que os preços médios em novembro estavam bastante favoráveis. Segundo a grande maioria dos agentes consultados, o mercado de queijos foi o que apresentou melhores resultados no ano, principalmente no 2º semestre.

O mercado de leite spot (comercializado entre indústrias) esteve mais forte em novembro, mas com o aumento da oferta do centro-oeste e sudeste sofreu leve reajuste. Está precificado em média de R$ 0,78-85/litro, dependendo da região, com expectativa de estabilidade até o fim de dezembro.

Em relação ao preço ao produtor nenhum dos agentes de mercado consultados pelo MilkPoint apontaram queda para dezembro, mesmo com a redução da demanda em razão das férias escolares e crescimento da safra de algumas regiões do centro-oeste que ainda não veio.

Ao que tudo indica, os preços devem se manter nos patamares atuais até o restante do ano e uma possível alteração desse firme mercado doméstico só deve ser observado em janeiro, já na boca de uma nova entressafra e, assim, gerando pouca possibilidade de termos reduções importantes de preço.

Contudo, a perspectiva é de que iniciarmos o próximo ano com um mercado mais equilibrado, com menores estoques de passagem e com preços cerca de 20% superiores no início do ano, podendo estimular a oferta para o final do primeiro semetre e para a segunda metade de 2011.

Marcelo Pereira de Carvalho
Diretor Executivo da AgriPoint
http://twitter.com/marcelopc
http://blog.oquederevier.com/ 


 

Rodolfo Castro
Engenheiro Agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"-USP e Analista de Mercado do MilkPoint.

Postado: Leomar Martinelli
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