Terceiro maior produtor nacional de leite, Paraná garante colocação com trabalho de pequenos produtores rurais
Terceiro maior produtor nacional de leite, Paraná garante colocação com trabalho de pequenos produtores rurais; diversificação ainda é desafio
O Paraná é o terceiro maior produtor de leite do País. Em 2009, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Estado produziu 3,3 bilhões de litros. Em 2010, houve um crescimento de 18% na produção em relação a 2008/2009. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) e pelo Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), os laticínios paranaenses processam, em média, 141,5 milhões de litros de leite por mês, o que totaliza 1,7 bilhão de litros por ano.
O levantamento, realizado no final do ano passado, revela o perfil da atividade industrial do leite no Paraná. Dos 314 laticínios oficiais existentes no Estado, 301 responderam a pesquisa, o que representa 83% do volume de leite processado. ''Verificamos que apenas 14 empresas processam 50% do leite produzido no Estado'', declara Marisa Sugamosto, pesquisadora do Ipardes. Segundo ela, essa concentração não interfere no preço do leite, pois ele é regulado pelo Conseleite.
A pesquisa ainda apontou que o maior número de laticínios (169) está localizado nas regiões Sudoeste, Norte Central e Oeste do Estado, onde há grande produção de leite. A região Oeste sozinha é responsável por 29% do volume total de leite processado. Em relação a qualidade do produto, verificou-se que 99% da coleta e do transporte do leite, da produção até a indústria, já é feita a granel, em ambiente refrigerado. ''Esse é um grande avanço, principalmente se compararmos com outros Estados. Muito disso se deve aos programas de Qualidade do Leite e Leite das Crianças'', explica.
O Paraná é auto suficiente na produção de leite, mas ainda há transferência do produto in natura para outros estados e a comercialização no mercado spot (leilão entre indústrias compradoras). ''É preciso superar a ociosidade por meio da diversificação da produção'', avalia Marisa. Mais de 40% das unidades pesquisadas produzem apenas um tipo de queijo e leite pasteurizado. ''Se os laticínios paranaenses não investirem em tecnologia para contemplar mais produtos lácteos, o nosso leite vai continuar passando para outros Estados'', argumenta.
A indústria paranaense possuía, em 2009, capacidade instalada para processar 3 bilhões de litros/ano. Segundo Marisa Sugamosto, isso significa uma capacidade ociosa de 43,3%, em média. Do leite processado pelos laticínios, 53,5% é destinado a produção de queijo, 10,5% para leite pasteurizado, 9,7% para leite UHT, 3% para leite em pó e 23,3% para outros tipos de mercadorias.
O setor de processamento do leite emprega 6.320 pessoas no Paraná, sendo que nos micros e pequenos laticínios a mão de obra é basicamente familiar (87%). ''É uma cadeia muito importante no Estado, que vem se desenvolvendo e crescendo, tanto em quantidade quanto em qualidade'', avalia Lourival Uhlig, médico veterinário da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab). (Folha de Londrina/PR)
Negócio feito em família
http://www.bonde.com.br/t.gif
http://www.bonde.com.br/t.gif
No total, o Paraná possui 118 mil produtores de leite, segundo a Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento (Seab). O casal de produtores, Leonice Dias e Lázaro Bueno Rodrigues - conhecido como Lazinho - representa a maior parte dos produtoras de leite do Estado: pequenas propriedades familiares. Em sua propriedade de 5,81 hectares localizada no município de Abatiá, o casal produz leite, alfalfa e café. Cada cultura corresponde a cerca de 30% do rendimento da família.
''Agora estou com seis vacas produzindo. Conseguimos um volume de 70 litros de leite por dia'', relata Lazinho. Há quase cinco anos, a propriedade é atendida pela assistência técnica do Projeto Redes de Referência, um trabalho desenvolvido em parceria entre o Instituto Emater e o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Segundo o engenheiro agrônomo da Emater, Ciro Marcolini, as vacas produzem por oito meses consecutivos durante o ano e a produção pode chegar a 120 litros por dia, dependendo da época.
Ciro informa que a média regional de produção é de 800 litros de leite por hectare, mas a propriedade de Lazinho e Leonice produz, em média, 6 mil litros por hectare. O agrônomo explica que esse bom resultado deve-se ao uso de pastagens de qualidade, adubação e rotação de pastagens, além do emprego do sistema silvipastoril, com plantio de eucaliptos. O agricultor alimenta o gado com ração e com a produção própria de alfalfa. Lazinho ordenha as vacas duas vezes por dia e cerca de quatro litros são consumidos pelos bezerros diariamente.
Para adquirir formação técnica, o casal realizou vários cursos ofertados pela Emater e pelo Senar. Ao adquirir a propriedade e iniciar a produção, o casal precisou de um financiamento do Banco da Terra, um programa federal que posteriormente foi substituído pelo Crédito Fundiário. ''Com a verba eu plantei café e comprei as primeras vacas'', lembra Lazinho. O Banco da Terra loteou uma fazenda em 56 lotes, sendo que um deles pertence a Lazinho e Leonice. Atualmente oito dos agricultores que integram o grupo de financiados pelo Banco da Terra depositam o leite produzido em dois refriadores instalados na comunidade.
Lazinho e Leonice vendem o leite para um laticínio da Confepar, que busca o produto no resfriador comunitário a cada dois dias. Além disso, o casal também vende uma pequena parcela do leite direto para a comunidade onde mora e produz queijos e doces de leite para vender na feira. ''Por semana, faço mais ou menos oito queijos, usando 25 litros de leite. A maioria é por encomenda'', conta Leonice.(M.F.)
http://www.bonde.com.br/t.gif
Captação fecha com aumento de 5%
http://www.bonde.com.br/t.gif
http://www.bonde.com.br/t.gif
O Índice de Captação de Leite calculado (ICAP-Leite) pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura (Esalq/USP) fechou 2010 com aumento de 3,05% em relação a 2009. Para a análise são apurados, por amostragem, os volumes médios diários de captação nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Bahia. De acordo com a pesquisadora do Cepea, Aline Barrozo, no Paraná houve um aumento de quase 5% em relação a captação de 2009.
''Como o índice apresenta aumento no volume de leite captado junto aos produtores, pode-se afirmar que houve aumento na produção'', explica Aline. Em dezembro do ano passado, o ICAP-Leite aumentou apenas 0,4% frente a novembro na média nacional. No Paraná, houve uma pequena redução, menor que 1%.
Segundo levantamento do Cepea, as adversidades climáticas continuaram limitando a oferta de leite em algumas regiões no mês de janeiro. No sul do Rio Grande do Sul, a seca afetou as pastagens e, com isso, a captação de leite. No Sudeste, em algumas regiões, as chuvas em excesso dificultaram o transporte do leite. (M.F.)
Preços devem se manter estáveis
http://www.bonde.com.br/t.gif
http://www.bonde.com.br/t.gif
Segundo dados do Cepea, em janeiro, o preço médio pago pelo leite aos produtores teve leve aumento de 1,2% (0,9 centavo por litro) frente a dezembro de 2010, indo para R$ 0,7294/litro (valor bruto). Em relação a janeiro do ano passado, o valor atual apresenta valorização nominal de 22%. No Paraná, em janeiro deste ano, houve alta de 1,1% (0,8 centavo por litro), com média de R$ 0,7553/litro. A expectativa do Cepea é de que, com o mercado firme, deve ser mantida estabilidade de preços.
O produtor Lázaro Bueno Rodrigues, de Abatiá, vende o litro de leite por R$ 0,56. Segundo ele, no ano passado, durante a entressafra, o valor chegou a R$ 0,70. Os queijos produzidos por Leonice, esposa de Lazinho, são comercializados, em média, por R$ 6, mas o preço varia conforme o tamanho da peça.
De acordo com o agrônomo do Emater, Ciro Marcolini, a última média de custo anual na propriedade de Lazinho foi de R$ 0,34 por litro. Marcolini explica que 10% do custo deve-se aos medicamentos e, deste total, 70% é destinado a medicamentos contra a mastite, a principal doença que atinge o gado de leite.
Qualidade
O Paraná possui apenas um laboratório integrante da Rede Brasileira de Qualidade de Leite. Localizado em Curitiba, o laboratório realiza a análise de 120 mil amostras de leite por mês. ''Fazemos a análise do leite de dentro da porteira'', explica Altair Antonio Valloto, superintendente da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH). É verificado, a pedido das indústrias que processam o leite, se o produto atende às exigências de qualidade determinadas pela Instrução Normativa 51, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
De acordo com Valloto, o leite paranaense possui uma qualidade muito boa. Ele explica que existem três padrões de qualidade do leite: os que se referem ao percentual de gordura e de proteína no leite, os de higiene e resfriamento - avaliado por meio da contagem de bactérias -, e os padrões de saúde da vaca - avaliado pela contagem de células somáticas. ''Em termos de proteína, 92% das amostras que recebemos estão de acordo com a Instrução Normativa 51'', avalia. Além disso, 88% das amostras analisadas estão de acordo com as exigências quanto ao nível de gordura no leite. ''Precisamos apenas melhorar os índices de contagem de células somáticas e de bactérias, que estão acima do que gostaríamos'', comenta.(M.F.)
Fonte: Folha de Londrina
Tweet |