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Leite - 28/12/2011 - Fechamento de 2011 e perspectivas para 2012 na visão de alguns nomes do setor lácteo


Em 2011 a pecuária leiteira brasileira vivenciou um ano de pouca volatilidade de preços ao produtor

 

Em 2011 a pecuária leiteira brasileira vivenciou um ano de pouca volatilidade de preços ao produtor, que se mantiveram no geral em patamares elevados. O custo de produção não ficou para trás e também apresentou aumentos que, em parte, limitaram os ganhos do produtor. Foi um ano de assuntos polêmicos como as discussões em torno da Instrução Normativa 51, o Código Florestal e as negociações relativas às importações com os vizinhos da América do Sul. A tão esperada safra da região Sul não veio na mesma proporção da expectativa e surtos de importações assustaram toda a cadeia. As empresas travaram forte busca de leite no campo para atender a demanda dos produtos lácteos. Esses entre outros acontecimentos marcaram 2011, e diante das especulações sobre 2012, o MilkPoint consultou algumas pessoas do setor para deixar suas considerações sobre o ano que está encerrando, assim como as perspectivas do ano seguinte. Confira!

Christiano Nascif, Coordenador Projeto Educampo/Sebrae MG

O ano de 2011 para os produtores de leite em Minas Gerais, comparado com o de 2010, pode ser considerado como de bons resultados com viés para a estabilidade.

O volume de leite dos produtores assistidos pelo Educampo/Sebrae-MG, em média, aumentou 6,18%. Lembrando que este aumento percentual é sobre um valor base de 2010, de 866,63L/dia para 920,22 L/dia, ou seja, bem acima da média nacional.

Os custos de produção praticamente se mantiveram. O custo operacional efetivo que foi de R$0,6339/L em 2010, em 2011 subiu para R$0,6507/L, um aumento de 2,65%. Os concentrados utilizados para a nutrição do rebanho foram os que causaram maior impacto sobre estes custos, pois aumentaram, em média, 4,5% quando comparamos 2011 em relação a 2010. Porém, o custo total de um litro de leite se manteve em torno de R$0,7970/Litro, isto porque o aumento de 6,18% no volume de leite produzido diariamente por estes produtores, contribuiu para diluir os custos fixos da atividade.

A taxa de retorno do capital com terra, que avalia a atratividade econômica de qualquer atividade produtiva, praticamente se manteve no patamar médio de 3,81% a.a., já descontada a inflação do período. Este valor nos mostra que a atividade em 2011 não foi tão atrativa economicamente, quando analisamos os dados médios dos produtores.

Como a atividade leiteira tem um comportamento semelhante a outras opções de negócio, tem empresários que ganharam, outros que perderam. No mesmo período de 2011, houve produtores que operaram com margem líquida negativa, e outros que obtiveram taxa de remuneração do capital com terra de 11,66% a.a., sendo viável e atrativa economicamente para estes produtores. Lembrando que este último estrato é o predominante.

Para 2012, os produtores com os quais mantenho contato, pretendem aumentar sua produção na faixa de 10% com o objetivo de manter estáveis os custos totais, acreditando na estabilidade dos preços pagos pelo leite, ou seja, mantendo o comportamento de 2011.

Quanto aos custos de produção, acreditam no recuo dos preços das commodities agrícolas, com isto, redução dos valores pagos pelo milho, soja, dentre outros, devido à desaceleração da economia mundial, desaquecendo, portanto a demanda por estes insumos. Por outro lado, pode ocasionar o efeito negativo nos preços do leite em pó no mercado internacional, além do efeito deletério devido à continuidade da política cambial brasileira.

Quanto aos custos com a mão de obra contratada, é unânime a previsão de aumento deste fator na composição dos custos de produção, que deverá ser compensada com o aumento da produtividade da mão de obra contratada.

Em síntese, os empresários esperam que 2012 seja no mínimo igual a 2011. Uma coisa todos têm certeza é que aumentar a escala de produção de leite, paralelamente com eficiência na utilização de fatores como terra e mão de obra, através do apoio de uma assistência técnica e gerencial competente, é o caminho para o sucesso na atividade leiteira.

Caio Vianna, Presidente do Laticínio CCGL

Os grandes desafios dos produtores de leite da região sul tem sido a profissionalização da atividade leite, tanto nas propriedades familiares como nas demais, onde qualidade e produtividade são as condições que permitirão a permanência na atividade, com escala e eficiência sendo os diferenciais.

Durante o ano de 2011, contribuíram para a manutenção dos preços a concorrência acirrada que as indústrias do RS estabeleceram na busca de melhorar a escala de suas plantas e o próprio aumento do consumo de lácteos no Brasil, principalmente em função das ascensões das classes C e D que proporcionaram que não houvesse sobre-oferta de leite no mercado, mantendo a demanda ajustada.

A expectativa para 2012 é que este quadro se mantenha em função do mercado internacional e cambio sinalizarem poucas possibilidades de grandes mudanças e o mercado interno deverá seguir as mesmas tendências de 2011.

Laercio Barbosa, Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV)

A ABLV e a indústria de Leite Longa Vida tem motivos de sobra para comemorar o desempenho do setor no ano de 2011. Os investimentos foram recorde histórico, ultrapassando a cifra de R$ 1 bilhão, alocados principalmente em novas plantas, aumento de capacidade industrial, modernização, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. O mercado também deve fechar o ano com crescimento expressivo, acima de 4%, com um volume de vendas entre 5,7 e 5,8 bilhões de litros e um faturamento superior a R$ 10 bilhões. Isso mostra que o leite longa vida ocupou definitivamente lugar de destaque no consumo das famílias brasileiras, como o principal leite de consumo do país. No entanto, tivemos algumas surpresas no ano. Mesmo com a indústria pagando aos produtores rurais preços 20% maiores que em 2010 para o leite in natura, a produção não acompanhou o crescimento do mercado, o que abriu espaço para as importações. Portanto, a nota negativa veio com o déficit histórico na balança comercial de lácteos, acima de 500 milhões de dólares e 1 bilhão de litros de leite equivalentes, basicamente pela entrada maciça no país de leite em pó e queijos.

Para o ano de 2012, nosso principal desejo é que as importações diminuam por ação efetiva de acordos e controle por parte do governo, permitindo assim que o crescimento do mercado de leite longa vida e lácteos em geral seja acompanhado e até superado pelo crescimento da produção primária nacional.

Rodrigo Alvim, Presidente da Comissão da Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)

Em 2011 tivemos um ano de preços altos, não só no preço pago ao produtor, mas também nos preços dos insumos. Se deflacionarmos o valor do preço ao produtor ainda estará menor do que os preços pagos em 2007. Entretanto, a pouca volatilidade nos preços ao produtor foi característica desse ano que passou, sendo a estabilidade muito interessante para todos.

O ano foi marcado pela forte concorrência com o Mercosul e a grande dificuldade em fecharmos o acordo para cota de importação com a Argentina. Os sustos com os surtos de importações argentinas e o déficit na balança comercial de lácteos prejudicaram o ânimo com a atividade.

No âmbito da qualidade, apesar de não alcançarmos os padrões estabelecidos pela instrução normativa 51, podemos concluir que de maneira geral, houve sim evolução na qualidade do leite brasileiro. O Brasil tem muitos problemas estruturais que precisam ser resolvidos e é necessário monitorar o trabalho através do acesso aos resultados das análises do leite.

Em 2012, existe o receio que a crise europeia afete o consumo e também os preços internacionais. Mas como aconteceu em 2009, esperamos que essa crise chegue ao Brasil apenas como uma "marolinha" (termo referente ao utilizado pelo ex-presidente Lula).

Espera-se que o consumo brasileiro de produtos lácteos chegue perto dos 168L/per capita/ano. E é provável que haja aumento no consumo de produtos lácteos com maior valor agregado impulsionado pelo aumento do salário mínimo, o que é positivo. Mas há o outro lado da moeda, o aumento do salário mínimo vai encarecer o custo da mão-de-obra e consequentemente pesar no bolso do produtor. Mas devemos lembrar que o problema maior não é o custo dessa mão-de-obra e sim a falta de indivíduos para serem treinados.

Equipe MilkPoint

Postado: Leomar Martinelli
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