A preocupação é que o frio provoque outro revés na safra de verão
A chuva não adianta mais para recuperar a safra frustrada e as perdas bilionárias na economia do Rio Grande do Sul. Porém, a perspectiva de precipitações regulares e bem distribuídas até a primavera anima o campo — e exige cautela. Especialistas alertam que a redenção para os problemas no verão não deve ocorrer completamente no inverno.
– Não se pode querer compensar tudo no ciclo de inverno. É preciso manter o planejamento de rotatividade e prazos para plantio – observa Alencar Rugeri, engenheiro agrônomo da Emater.
A corrida por informações sobre novas culturas já foi deflagrada. A linhaça e a canola surgem como alternativas ao trigo em algumas regiões. Entre os agricultores do noroeste do Estado, uma das regiões mais castigadas pela seca, a maior preocupação é com a cobertura de solo, o que indica um aumento no cultivo de aveia.
Antes da chuva, porém, a preocupação é que o frio provoque outro revés na safra de verão. Segundo a Emater, as baixas temperaturas previstas para os próximos dias podem prejudicar as lavouras remanescentes de milho e soja. Rugeri destaca que a variação extrema de temperatura é um risco para a planta.
O consultor Jorge Vargas observa que o objetivo deve ser reter o máximo de água no solo para tentar evitar perdas maiores na safra de verão. Se depender do clima, há esperança de sobra. Além da chuva mais frequente a partir de abril, a previsão é de volumes considerados bons até mesmo na primavera, quando começa a safra de verão.
– Tudo dependerá de como o solo vai absorver a água, mas se a primavera for mesmo chuvosa, há boas perspectivas de safras melhores – salienta Julio Renato Marques, professor da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Municípios como Silveira Martins, Agudo e Restinga Seca, no centro do Estado, estão em alerta. Em São Gabriel, a prefeitura retomou a entrega de água potável para o interior. O desabastecimento também atinge o Noroeste e o Vale do Rio Pardo. Em Santa Cruz do Sul, só neste mês foram entregues pelo menos 227 cargas de água potável.
– O mais grave do La Niña foi a falta de chuva e o calor intenso na primavera, quando há o enchimento dos reservatórios – observa Estael Sias, meteorologista da Central de Meteorologia.
Segundo ela, a recuperação ainda é parcial no Estado. As regiões mais problemáticas são Missões, Alto Uruguai e Planalto Médio. Estael observa, porém, que a situação é diferente da seca de 2005, quando a escassez foi mais intensa em março. E revela uma tendência de chuva mais regular a partir da chegada do outono.
Conforme boletim do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), abril deve ter chuva acima da média na maior parte do Estado, em especial na Campanha e no Oeste. Em maio, as precipitações devem superar a média em todo o Rio Grande do Sul. Para junho, a previsão é de chuva dentro da média histórica.
Fonte: Zero HoraTweet |