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Agricultura - 25/03/2018 - Sucessão na agricultura familiar é desafio para o agronegócio


Além da transferência patrimonial, é preciso ceder ao jovem o poder de decisão, de responsabilidade

O agronegócio brasileiro é responsável por mais de 20% de toda a riqueza econômica no Brasil, suprindo a demanda interna e gerando excedentes para exportação e superávit da balança comercial, com saldos anuais de mais de US$ 80 bilhões. Mais de 40% do total das exportações brasileiras são oriundas dos setores produtivos que compõem o agronegócio. Aproximadamente 20% do total de pessoas ocupadas no país – em torno de 18 milhões – trabalham em empreendimentos que formam as cadeias produtivas do setor, sendo que metade desses empregos está dentro das propriedades.

A contribuição da agricultura familiar para a geração dessa riqueza no país é significativa, seja analisando-se o valor da produção (mais de 30%), os percentuais de produção dos principais produtos (entre 14% e 83%) ou o número de propriedades (84%), conforme o Censo Agropecuário de 2006. Esses dados revelam o conceito normativo (Lei 11.326, 24/07/2006) de agricultura familiar, que considera os critérios de área da propriedade, uso da mão de obra, origem da renda e forma de gestão do empreendimento rural. Para além desse conceito, a agricultura familiar no Brasil se amplia ainda mais se considerarmos a existência de três características nas propriedades: trabalho, propriedade e gestão.

Mas como garantir a “passagem do bastão” entre as gerações no comando desses negócios rurais familiares? Não é somente a transferência patrimonial, mas principalmente a transferência de poder de decisão, de responsabilidade e de autoridade para os sucessores com relação ao empreendimento. Os jovens do meio rural são influenciados pelo contexto social em que estão inseridos e suas decisões podem voltar-se para sonhos que não contemplam dar continuidade aos negócios criados pelos pais. Trabalhar com o tema da sucessão rural requer analisar os diversos fatores que influenciam as decisões dos jovens e agir sobre as causas que explicam o fenômeno, considerando as diferenças regionais, como cultivos, clima, gênero, mercados, tecnologias e atrativos urbanos.

Avançar nessa questão, que envolve a família, base das relações sociais dos indivíduos e das identidades e sentimentos de pertencimento, requer abordagens interdisciplinares que influenciem a concepção de programas e sistemas de gestão que permitam considerar os valores, crenças, mitos e rituais de cada família. Desafio para os atores do agronegócio brasileiro!

 

Glauco Schultz é professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Fonte: ZH / Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS

Postado: Clécio Marcos Bender Ruver
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