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Agricultura - 12/11/2011 - Crissiumalenses participaram do X Congresso da FETAG


Na foto os representantes da Regional de Três Passos, incluindo os crissiumalenses

Aconteceu nesta semana com participação de crissiumalenses o 10º Congresso Estadual de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, que terminou na quinta-feira (10), na sede da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), em Porto Alegrea abertura havia acontecido na terça-feira (08). Confira notícias que foram destaque nos três dias de congresso:




Casa cheia na abertura do 10º Congresso Estadual da Fetag, no dia 8 de novembro, na sede da Federação. 

O presidente da Fetag, Elton Weber, falou da importância do Congresso para orientar o caminho a ser trilhado nos próximos anos. Disse que a hora é de valorizar o trabalho da agricultura familiar, “de discutir, debater, encaminhar e propor mudanças”. O Congresso continua amanhã com palestras sobre meio rural e sindicalismo, trabalhos de grupo sobre os eixos temáticos e noite cultural.

A mística de abertura teve o desfile dos representantes das 23 regionais sindicais da Fetag, cada qual trazendo a produção da sua região. Tarros de leite, grãos, frutas, verduras, pães, rapaduras, enfim, uma diversidade de alimentos. Tudo ao som de O Cio da Terra, de Chico Buarque, interpretada por Milton Nascimento.
   
Compondo a mesa, Weber, a coordenadora de mulheres da Fetag, Inque Schneider, o presidente da Contag, Alberto Broch, o secretário de Desenvolvimento Rural e Cooperativismo, Ivar Pavan, que representou o governador Tarso Genro, o superintendente do Mapa, Francisco Signor, a representante do MDA, Dalva Isaura Schreiner, o deputado estadual Heitor Schuch, o superintendente do Senar, Gilmar Tietböhl, Vergilio Perius, presidente da Ocergs/Sescoop e Vicente Selistre, vice-presidente nacional da CTB. Após as falas das autoridades, e antes da acolhida de Weber, foi apresentado o vídeo institucional da Fetag, resgatando a trajetória de lutas e conquistas, emocionando a todos.
   
Inque Schneider destacou a ocupação do espaço pela mulher no movimento sindical. Falou ainda da importância dos aposentados, jovens, assalariados rurais e pecuaristas familiares. Perius comentou que “viu um filme” quando a regional Santa Rosa mostrou seus produtos. Ele contou que veio de uma família com 11 filhos, numa propriedade de 24 hectares, e que aquela cesta lembrava a atividade de sua mãe.
Já Tietböhl descreveu a determinação pelo trabalho e a capacidade de se emocionar com que faz, sentida em cada vez que ele está num ambiente da Fetag. Pavan recordou que antigas bandeiras hoje são conquistas e que o Congresso é uma oportunidade para pensar em novas lutas. Selistre defendeu a necessidade de um debate conjunto entre trabalhadores rurais e urbanos.

Schuch falou da importância da agricultura familiar e as conquistas do movimento sindical ao longo dos anos. Signor saudou os congressistas e seus saberes. Brincou que o presidente Elton sempre avisa, com antecedência, quando a Fetag vai fazer mobilização no prédio do Incra. Dalva ressaltou a parceria entre Fetag e MDA. Broch disse do desafio que é levar as políticas públicas a todos os trabalhadores.
   
Além dos congressistas, o auditório esteve repleto de autoridades que representam a economia e a história do Rio Grande do Sul. O ex-ministro Guilherme Cassel, agora no Banrisul, Benício Werner, da Afubra, José Carlos Reis da Silva, do Banco do Brasil, Vicente Bogo, ex-deputado federal constituinte, Ezídio Pinheiro e Plínio Hentz, ex-presidentes da Fetag, Orlando Borges Müller, do Sicredi, Guiomar Vidor, presidente da CTB-RS, Lotário Vier, presidente da Ceasa, Valdir Zonin, representante da Emater, entre outros.




Desafios e perspectivas da agricultura familiar em debate
      
O segundo dia do 10º Congresso da Fetag foi de intenso trabalho. Pela manhã, duas palestras mantiveram o público atento no auditório da Federação: de um lado, o economista do Dieese, Sérgio Mendonça, que analisou a conjuntura nacional e internacional, relacionando-a com o sindicalismo e o meio rural; de outro, o professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do RS, Welington Zanini, que abordou a realidade, as perspectivas e os desafios da agricultura familiar, confrontando-os com a organização sindical e o associativismo. Juntos, os temas complementaram-se e, na leitura do presidente da Fetag, Elton Weber, mostraram diferentes cenários e apontaram alternativas concretas para os trabalhadores rurais, especialmente, a partir da organização da categoria.
Mendonça falou sobre a crise econômica que atinge Europa, Japão e Estados Unidos desde 2007. Acrescentou que é a mais grave desde a recessão de 1929, que se estendeu até a 2ª Guerra Mundial. Ele acredita que, a atual, vai perdurar por alguns anos ainda. Apenas a China segue crescendo, pelo menos por enquanto, mas Mendonça pensa que os produtos chineses baratos estão com dias contados. Enquanto a Europa corre o risco de romper a unificação, o crescimento do Japão está praticamente estagnado há 20 anos, situação que acabou se agravando com o Tsunami e o consequente acidente nuclear, e os Estados Unidos estão divididos no jogo de interesses entre o Partido Democrata, do presidente Barack Obama, e o Republicano, integrado por grupos de extrema direita, enfrentam o crescimento acelerado na distribuição de renda da população. O economista acredita que a bola da vez está com o Brasil.
 
Ele explicou que, apesar do Brasil não escapar de uma crise internacional, o país tem oportunidade histórica de elevar o crescimento, aumentando a distribuição de renda. Acrescentou que, quando há dificuldades no mercado externo, é possível voltar-se para um projeto de desenvolvimento relacionado às necessidades da população, que seria o substituto da globalização.
 
Para isso, diz Mendonça, o salário mínimo deve continuar crescendo mais do que a economia – o reajuste em 1º de janeiro será de 14% (conforme estudos do Dieese, 45 milhões de brasileiros são afetados com o aumento do mínimo). Outra medida fundamental seria a eliminação do “rentismo”, ou seja, daquelas pessoas que sobrevivem sem trabalhar, apenas aplicando o capital nos bancos com lucro fácil e astronômico – a maneira de combater essa especulação, segundo Mendonça, é através da redução da taxa de juros. Ele defende um projeto de desenvolvimento com cuidados ambientais e questão social diferenciada, com investimentos nas áreas de educação e saúde. É só através da educação de qualidade nas escolas públicas que os filhos de pobres terão uma chance de igualdade com os filhos dos ricos, finaliza.
    


Organização
 
O segundo palestrante, professor Welington Zanini, defensor ferrenho dos agricultores familiares, afirmou que, de forma alguma, grandes e pequenos podem lutar juntos. Falou da importância da organização sindical e disse que a agricultura familiar perde espaço na capacidade de alocar recursos. Zanini acredita que os trabalhadores rurais devem lutar por política de preços exclusiva, defender a preservação das florestas com direito à indenização por parte do Estado, eleger representantes vinculados aos pequenos. Sobre a organização, o professor criticou a quantidade de movimentos que representam a mesma categoria, enfraquecendo-a. Ele acredita que uma das principais bandeiras do segmento deve ser a reforma agrária para os filhos de agricultores familiares em detrimento do crédito fundiário.
O palestrante circulou por dois mundos opostos, incrustados na mesma área geográfica. Enquanto para os grandes proprietários o campo é um lugar para produzir com tecnologia, rentabilidade e pouca gente, para a agricultura familiar o rural é um lugar para viver, produzir alimentos, preservar a cultura, a natureza, a vida comunitária, lugar de escolas, comércio, agroindústria, turismo, saúde, estradas, serviços, lazer e, claro, pessoas.
Zanini analisou o cenário do campo: inserção produtiva da agricultura familiar; integração vertical da agricultura familiar por meio de contratos com agroindústrias, royalties; integração horizontal, com redes e cooperação; reforma agrária visando a sucessão com políticas agrícolas diferenciadas; pela via não-agrícola, com a inserção dos agricultores em outras formas de trabalho.
 
Há várias visões sobre o cenário rural, conforme o professor, que fala da estratégia dominante, de mercado, que não distingue os grandes dos pequenos; da estratégia complementar, quando o desenvolvimento rural é uma decisão política e levaria à solução de questões sociais, técnicas e econômicas; da estratégia mediadora, através de política sustentável, que requer governo e estado fortes; da estratégia realista, via mercado não-agrícola, quando a agropecuária não viabiliza a agricultura familiar e os trabalhadores procuram atividades não-agrícolas, mas sem sair do meio rural; da estratégia emergente, pela via ambiental, com o desenvolvimento limitado pelos aspectos ecológicos, ambientais e econômicos, quando o agricultor sabe o limite e o campo é um espaço de vida e futuro.



Congresso encerra com manifestação no MDA


Diversas questões propositivas aprovadas, como continuidade do trabalho, definição de novos focos,  reivindicação e implementação de políticas públicas de renda, sucessão rural, meio ambiente, reformulação de questões estruturais internas, formação sindical mais efetiva, discussão da representação política são pontos destacados pelo presidente da Fetag, Elton Weber, ao final do 10º Congresso Estadual, na tarde de hoje (10), na sede da Federação. Antes de seguir com outras lideranças para o prédio do MDA, a fim de pressionar o governo federal para a imediata publicação da resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre o endividamento agrícola, Weber avaliou de forma positiva o Congresso, seja pela participação de 500 pessoas, entre delegados e congressistas, bem como pela organização do evento, desde os municípios, com a discussão dos temas de base e elaboração de propostas. O dirigente destacou a colaboração de todos, dentro e fora da Federação, para o sucesso do debate.
   
Ainda no encerramento do congresso, na despedida, o presidente da Contag, Alberto Broch, elogiou o debate, afirmando que o trabalho deve ser feito em coerência com o conjunto do MSTTR. Disse que não há sindicato sem Fetag e Contag, nem vice-versa. Esclareceu que as decisões da Contag são sérias, mas que sempre há o que melhorar e rediscutir. Falou, ainda, da importância do sistema confederativo, acrescentando que não há conquistas e transformações sem visão e organização. “Que a história dos 48 anos da Fetag possa fortalecer o movimento. Queremos um sindicato forte, representativo, como a maior força do município, para que seja um instrumento da sociedade”, finaliza.
   
O diretor da Fetag e deputado estadual Heitor Schuch fez questão de dar uma notícia em primeira mão para os trabalhadores rurais. Ele informou que hoje (10), no final da manhã, a Comissão de Finanças, Planejamento, Fiscalização e Controle da Assembleia Legislativa aprovou a Emenda n° 433, de sua autoria, que amplia a capacidade produtiva do Lafergs (Laboratório Farmacêutico do RS), o que deve possibilitar a produção de medicamentos e protetor solar. Dessa forma, Schuch acredita que a lei que garante a distribuição do protetor aos agricultores sairá do papel e acontecerá na prática.


Fonte: www.fetag.org.br

Postado: Clécio Marcos Bender Ruver
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