Texto de opinião do médico Carlos Alberto Pereira de Figueiredo
A escolha de Sofia é a história de uma mãe judia no campo de concentração nazista de Auschwitz, que é forçada por um soldado alemão a escolher entre seus dois filhos qual será executado e o que será poupado. Se ele se recusasse a escolher, os dois seriam mortos.
Situações semelhantes vivenciam os médicos intensivistas, que freqüentemente se deparam com mais de um paciente necessitando de leito em UTI e precisam decidir qual será o primeiro a ocupar o leito vago ou que irá ficar vago, já que a falta de leitos em UTI é um problema sério que vem ocorrendo a vários anos. É comum terem por telefone o seguinte diálogo (nefasto e macabro) com seu colega que está necessitando de um centro de referência. “Hora, de hoje para amanhã pode ter um ou dois óbitos e teremos leito disponível.” Esta situação causa constrangimento entre profissionais, pacientes e seus familiares.
A medicina é uma profissão onde mesmo sendo competente o profissional é submetido a estresse e tensão constante, além disto, vivencia em sua rotina situações extremas, onde deve decidir que paciente vai ocupar o leito vago.
A que ponto chegou a saúde no Brasil. Ao longo dos últimos 30 anos o RS perdeu centenas de leitos em sua rede hospitalar, sendo assim, é necessário enfrentar os problemas de financiamento de seu sistema de saúde e rever de que forma estão sendo investidos os recursos, especialmente na rede hospitalar.
A expectativa de vida do brasileiro aumentou, hoje é de 76 anos, entretanto, apesar de viver mais, os brasileiros comem mais e de forma errada acarretando num aumento significativo de brasileiros diabético, hipertensos e obesos. Tais doenças são fatores de risco para Infarto Agudo do Miocárdio e Acidente Vascular Cerebral, situações graves que na maioria das vezes necessitam de internação urgente em UTI. Mas como vimos a oferta de leitos na UTI é insuficiente para o número de pacientes que necessitam destes cuidados, levando pacientes, familiares e profissionais ao desespero.
Hoje é difícil conseguir recursos para ampliar a UTI de Três Passos. Entretanto, sugiro conseguir recursos através de emendas parlamentares dos deputados da nossa região para melhor equipar os hospitais de Crissiumal, Tenente Porteka e Santo Augusto para que tivessem condições de atender os pacientes menos graves, só utilizando a UTI de Três Passos para pacientes de extrema urgência. Com isto, haveria uma diminuição significativa da necessidade de leitos na UTI de Três Passos.
Sabe-se que muito se fala em ações que promovam a saúde da população, mas onde está a preocupação com a saúde das pessoas que estão em situação de risco de vida e necessitam de cuidados intensivos?
Muito se fala em saúde prevenção, programas e outras ações, perguntamos: Onde está a preocupação com o paciente que necessita cuidados especiais em situação de risco de vida que não são detectados através de programas preventivos?
Estabelece-se e discutem-se modelos de saúde, participação social e outras idéias, mas não se encontra na literatura a necessidade ou quantificação para esses pacientes necessitados de UTI, adultos e crianças. Não há nenhuma política permanente de saúde que abranja está área específica, com isso concluímos que a oferta de leitos de UTI no Brasil está totalmente fora da exigência definida pelos padrões internacionais de atenção ao paciente crítico.
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