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Saúde - 06/03/2017 - Em dois anos, planos de saúde perdem 80 mil usuários no Estado


Crise econômica leva à redução de quase 3% do número de beneficiários

Nos últimos dois anos, devido ao agravamento da crise econômica e ao aumento da taxa de desemprego, 78,6 mil pessoas deixaram os planos de saúde no Rio Grande do Sul — um contingente correspondente à população de Lajeado, no Vale do Taquari. No Brasil, foi registrado recuo de 2,7 milhões de usuários da chamada saúde suplementar no período. As informações são de Zero Hora.

 

Quinto colocado no ranking nacional, o Estado tem hoje 2,66 milhões de beneficiários, quase 3% a menos do que em 2015, conforme dados referentes a janeiro divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Em todo o país, 47,6 milhões de pessoas contam com convênios, queda de 5,4% em relação ao ano retrasado.

 

Na avaliação do superintendente- executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), Luiz Augusto Carneiro, esse resultado reforça o sinal de alerta para o setor, que pode enfrentar novas reduções no decorrer de 2017. De acordo com o dirigente, uma possível estabilidade do mercado vai depender da retomada da atividade econômica e da recuperação do emprego no país.

 

"O que nos deixa mais otimistas é que as mais recentes pesquisas de mercado, como o boletim Focus, do Banco Central, indicam expectativa de crescimento do PIB e estabilidade inflacionária, o que pode gerar um processo de retomada do desenvolvimento, do consumo e, também, do mercado de trabalho", diz Carneiro, em nota divulgada pelo IESS.

 

Com o número de desempregados batendo recorde no país e atingindo mais de 12 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), boa parte desse contingente que deixa de usufruir do plano de saúde agora passa a depender do Sistema Único de Saúde (SUS). Presidente da Associação Brasileira em Defesa dos Usuários do SUS (Abrasus), Terezinha Alves Borges afirma que a entidade — que oferece suporte técnico e jurídico para pacientes que precisam, por exemplo, de exames, remédios e cirurgias que devem ser fornecidos pelo SUS — vem registrando significativo aumento na demanda, especialmente nos últimos dois anos.

 

— Há casos de pessoas com doenças graves que, devido a dificuldades financeiras, acabam, muitas vezes, tendo que migrar para o SUS e não podem interromper o tratamento. Sem condições de esperar, eles nos acionam. Então, a judicialização da saúde vai ficar cada vez pior, como reflexo da crise e dessa debandada dos planos de saúde — avalia.

 

Segundo o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) Vinícius Ximenes, sem investimento na saúde pública a migração de usuários de planos pode levar o SUS a atingir o teto de sua capacidade de atendimento (leia entrevista na página ao lado). Na contramão do aumento da procura por tratamento no sistema público, os repasses do Fundo Nacional de Saúde (FNS), que é o gestor financeiro dos recursos destinados ao SUS, na esfera federal, estão diminuindo. Conforme dados disponíveis no Portal Transparência da União, a verba destinada ao Rio Grande do Sul caiu 11,2% no ano passado, em comparação com 2015. Estado e municípios gaúchos receberam R$ 4,4 bilhões em 2016, ante R$ 4,9 bilhões em 2015, em valores corrigidos pela inflação. Em todo o país, esse recuo foi de 4,3%, totalizando R$ 75,5 bilhões no ano passado.

 

Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde informou que os dados do SUS sempre são crescentes e que não há como fazer uma relação com "a migração de pessoas dos planos privados para o SUS, pois o SUS é um sistema universal". Conforme a pasta, o sistema contabiliza procedimentos e não número de pessoas atendidas. Em 2015, foram realizados 4,12 bilhões de atendimentos e internações, ante 4,1 bilhões em 2014 — os dados referentes ao ano passado não foram divulgados. "Vale ressaltar que o financiamento da saúde pública, bem como a gestão, é compartilhado entre a União, que estabelece as diretrizes das políticas de saúde, e os Estados e municípios, responsáveis pela execução dos serviços e organização da rede de assistência à saúde da população", diz trecho da nota do ministério.

 

Fonte: Rádio Gaúcha

 

 

Postado: Leila Ruver
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