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Texto de Opinião - 01/09/2024 - Crianças bem pequenas também precisam de limites


Por Delci Teresinha Rohr Hentges Professora e Pedagoga

Na Educação Infantil modalidade creche, acolhe-se bebês, crianças bem pequenas, assim nomeadas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Trata-se de um período da infância no qual o desenvolvimento encontra-se bastante perceptível. O desenvolvimento integral da criança exige constante estimulação, cuidado, amor, bem como uma rotina pensada para o bem estar e saúde incluindo limites. Os pequenos crescem e se desenvolvem consideravelmente nesse curto período de tempo, vindo a sentar, rastejar, engatinhar, caminhar, correr, saltar e rolar, entre balbuciar, cantar, falar, brincar e interagir. 

A criança vai aprendendo com seus pais e ou responsáveis a perceber o que lhe é viável ou mesmo inviável a partir do exemplo, das vivências que está inserida e dos ensinamentos que recebe. Desde bebê a criança aprende a respeitar, tolerar, esperar e cuidar do outro. No convívio diário na escola (creche) nas interações, brincadeiras e atividades de rotina vem contribuir para esta aprendizagem ir se constituindo, porém é imprescindível que a família se mostre um pilar atuante na educação desta criança  apostando cada dia com paciência e muito amor para que gradativamente a criança vá assimilando o certo. As crianças precisam ter no ambiente familiar um espaço que favoreça a construção de valores e assim se constituir de forma segura, amada e feliz.

A criança bem pequena sem limites, que tudo pode, determina tudo, impõe tudo em casa, nunca sendo contrariada pelos pais para evitar choros, birras e indisposições cresce conhecendo a forma de relações como sendo ela sempre atendida de imediato em seus desejos. Desta forma os bebês e mesmo crianças bem pequenas acreditam que assim é o funcionamento em todos os espaços da sociedade inclusive na escola, entram em choque quando convivem em espaços com regras, limites e respeito. É visível que crianças educadas na permissividade  geralmente tem muitas ou mais dificuldades em aceitar pequenas regras de convivência, ser respeitoso com coleguinhas, usar de gentilezas, bem como aceitar a rotina e orientações de professores e educadores. É gritante como as escolas em geral vem sentindo as consequências de uma educação permissiva e as crianças sofrem pela falta de limites sendo uma lacuna na sua formação.

Crianças que vão aprendendo a ter limites   trazem consigo o respeito, mais tolerância, empatia, o espírito colaborativo e  mais calma. Dar limites a uma criança bem pequena é dar amor, sendo a base para que ela vá construindo vínculos mais seguros e  ter mais clareza do que pode e do que não pode fazer. O limite com amor é o que a criança precisa dos adultos bem como  a  firmeza com doçura. A  disciplina  vem de berço sendo um fator básico para  que esta  criança bem pequena aprenda a se portar e adquirindo boas maneiras e boas relações.

Segundo Içami Tiba, “ Nada é mais sustentável que a educação de valores, pois uma vez aprendidos e praticados, passam a fazer parte da vida de aprendiz pelo resto de sua vida. Nada há que custe tão pouco como o aprendizado e sua prática; que dure tanto e que seja tão útil e tão sustentável do que a excelência de um valor sustentável.”

Vale refletir, somos nós família e escola na conjuntura atual que devemos instaurar os valores aos quais validamos necessários e positivos para gerir uma sociedade mais humana e sustentável. Segundo Içami Tiba é preciso seriedade na comunicação, na hora de conversar e orientar as crianças, se é pra chamar sua atenção nada de “ Meu príncipe venha cá” isto não combina com  seriedade  no momento que precisa pontuar questões pertinentes a posturas mais educadas por parte da criança.

A escola de Educação Infantil trabalha com crianças que estão na fase oral e egocêntrica em  pico e ápice, porém a criança geralmente consegue aceitar e perpassar por essa fase com mais mansidão e tranquilidade quando  é educada com o diálogo, a paciência, o amor, a atenção, o carinho, junto com o limite. Ao impor limites, a presença do pai e da mãe são sentidos pela criança fazendo toda a diferença pois sabe que estão olhando por ela. Crianças que crescem sem limites, que mandam nos pais, batem nos adultos, extravasam pois  sentem a falta do olhar de cuidado e então cada vez vão avançando, chamando a atenção de todos que os cercam, o que na verdade vem a ser um pedido de socorro de limites. Muitas são hoje as crianças bem pequens implorando por limites. Leo Fraiman afirma em seus livros e palestras  que dizer não abre para um grande sim e nos lembra que são os pais que dão a resposta final nas grandes questões ligadas a saúde, educação e a respeito.

Vale refletir, que crianças queremos deixar para o mundo. Como pais ou responsáveis o que consideramos essencial para nossa criança interagir de forma harmônica e educada. O que vem a ser educação sustentável a qual leva em consideração as emoções, os sentimentos, os afetos, a vontade, os desejos, os sonhos, os relacionamentos humanos e também  as estratégias de ação para melhores resultados. É aí que entra a sustentabilidade com as recentes preocupações mundiais na  preservação e recuperação das condições da vida humana no planeta Terra.

A escola é a instituição que tem o dever de contribuir neste processo de educar, porém a responsabilidade é da família. Percebe-se no chão da escola diariamente, que fica mais fácil a escola ser a segunda casa  quando a  família consegue  ser a primeira  escola. Amemos nossos bebês e crianças bem pequenas  e lembremos em tempo, de sim dizer com amor ao que podem e ao que  é inviável, que saibamos nos impor como adultos a educar estes pequeninos com postura para que compreendam que  nem tudo o que queremos, podemos, num mundo que é de vivências coletivas e respeitos mútuos. Façamos nosso papel acontecer na íntegra, proporcionando aos pequenos o limite necessário para o bom desenvolvimento de um ser humano inocente que depende dos ensinamentos e orientações de  adultos conscientes e responsáveis. Como diz Içami Tiba, “Quem ama, cuida”, e cuidar inclui educar. 

Por: Professora e Pedagoga - Delci Teresinha Rohr Hentges

 

 

Postado: Leila Ruver
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