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Texto de Opinião - 23/01/2020 - A Base Nacional Comum Curricular na Prática


Por Claudia Cristina Schwendler Koch – Pedagoga

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), homologada pelo MEC em 2018, já está em fase de adaptação para os currículos escolares de todo o país. Por um lado, o documento traz uma proposta de educação com base em habilidades e competências que não se limitam ao ensino cognitivo, trazendo também a perspectiva socioemocional, que atinge de forma transversal todos os conteúdos e ajuda a desenvolver o estudante de forma multidimensional: emocional, cultural, física, social e intelectual. Por outro, a Base traz um desafio aos educadores do país: trazê-la para a sala de aula, desenvolver as competências gerais dos alunos e adaptar os métodos de ensino para que cumpram as atuais exigências.

Apesar de a Base estar em vigor há pouco tempo, seus fundamentos residem em documentos bem mais antigos e amplamente conhecidos: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCNs) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). A BNCC foi elaborada com base nas disposições já estabelecidas, mas de forma a ampliá-las e especificá-las, delimitando com mais clareza os objetivos de aprendizagem para cada ano e as habilidades que devem ser trabalhadas. O documento não impõe um currículo específico, mas estabelece orientações normativas para sua formulação. Assim, cada escola está livre para adaptar a Base de acordo com suas próprias particularidades e seus regionalismos. O professor não precisará mudar seu estilo ou sua personalidade para dar as aulas, mas sim considerar novas perspectivas ao planejá-las.

O primeiro passo para iniciar a implementação da BNCC nas escolas é estudá-la. A Base traz, de forma bastante específica, didática e detalhada, tudo que é necessário saber para conhecê-la a fundo. Essa atividade deve ser feita por todo o corpo pedagógico: diretores, coordenadores e professores. Após o estudo aprofundado da Base, a recomendação é reformular o Projeto Político Pedagógico (PPP), documento que delimita os objetivos da instituição, a fim de comparar suas disposições com as trazidas pela BNCC e verificar tanto as que já atendem, quanto as que devem ser adaptadas ou até mesmo substituídas. 

Após a apropriação do conteúdo da Base por parte do corpo docente e a integração de seus fundamentos no Projeto Político Pedagógico da escola, é importante sintetizar e levar as mudanças para pais e responsáveis, nas reuniões com os familiares, explanando questões como a origem da BNCC, o que são as competências e as habilidades, como essa nova abordagem modificará o estudo individual e coletivo dos alunos, o que é a formação integral e de que forma poderá ocorrer a educação socioemocional dentro da instituição de ensino. Um bom diálogo com os responsáveis pode, inclusive, ajudar a construir essa nova educação de forma colaborativa, incluindo a família e promovendo uma extensão do que for trabalhado na escola também para dentro de casa. 

Em paralelo, a formação continuada dos professores é vital para uma boa transição. Um bom estudo do documento não se refere apenas à compreensão das habilidades e dos conteúdos que devem ser trabalhados. A formação integral trazida pela BNCC propõe repensar a escola como um todo. Não se trata de adequar somente as aulas, mas também o ambiente, as rotinas, as relações e as práticas. Vale destacar que para trabalhar habilidades socioemocionais não basta ajustar o conteúdo: é preciso criar condições para seu desenvolvimento. Faz-se necessária uma maior mediação nas relações sociais entre os próprios alunos, entre os alunos e os professores e entre os alunos e os demais funcionários da escola. Para além das práticas, o professor também deve se considerar como um dos elementos-chave para uma boa transição. Não basta promover as mudanças com os alunos: é necessário repensar as próprias práticas pedagógicas e se dispor, acima de tudo, a se renovar e se transformar enquanto educador, com mente aberta para entender por que as mudanças previstas pela Base se fazem necessárias.

 Outro ponto importante a ser entendido na implementação da BNCC é que o conhecimento cognitivo puro deixa de ser o maior enfoque da formação. Sendo assim, as provas e avaliações deverão ser repensadas para abrangerem mais do que apenas o nível de informações absorvidas por cada estudante, tornando-se mais próximas da avaliação formativa e do acompanhamento a longo prazo dos alunos. A própria Base dá pistas sobre como isso deve ser trabalhado. Cada habilidade propõe que o conteúdo deve ter em si uma finalidade e uma intencionalidade pedagógica. Assim, saímos de uma formação conteudista para uma formação que considera o que é possível fazer com o conhecimento adquirido.

O conteúdo, então, passa a ter significado para além das provas e é sob esse fundamento que as avaliações curriculares devem ser reformuladas. A abundância de matérias dá lugar ao conteúdo realmente essencial à formação, que tenha aplicabilidade no dia a dia e cujo sentido possa ser percebido pelo estudante. Com menos conteúdo e mais foco no desenvolvimento de habilidades, espera-se a formação de um estudante que saiba se aprofundar em suas áreas de interesse, com autonomia para buscar conhecimento independentemente do conteúdo programático. Um ponto decorrente dessa nova estrutura de ensino, com base na intencionalidade pedagógica e na aprendizagem significativa, é o conteúdo contextualizado. Isso significa que tudo que é aprendido deve fazer parte de um contexto maior relacionado à vida do estudante e com algum nível de aplicação prática, tornando-se útil para a sua vida além da realização da prova. Para auxiliar os professores, o portal BNCC na Prática apresenta uma matriz curricular que traduz as disposições da Base para aplicações cotidianas na escola. Outra dica bacana é o guia BNCC NA SALA DE AULA, disponível no site: www.bit.ly/guiaprofessoresBNCC.

Nesse aspecto, o livro didático terá o papel fundamental de ajudar a escola e o professor não só a replanejar as aulas, mas também a facilitar esse processo de adaptação. As editoras já estão ajustando as obras para dar suporte às mudanças previstas pela Base, como a formação com base nas competências, nas habilidades e na dimensão socioemocional. Além disso, o material deve estar mais contextualizado ao cotidiano do aluno, levando em conta a aprendizagem significativa. Nesse sentido, um papel importante será desempenhado pelo manual do professor, com direcionamentos e sugestões de abordagem que orientem o docente a criar planos de aula mais dinâmicos, que consideram as competências socioemocionais e que contextualizam os temas de forma a atender o que é esperado pela BNCC. 

Os Objetos Educacionais Digitais (OEDs) também desempenham papel importante na implementação da Base. A própria BNCC já estabelece um grande enfoque no uso da tecnologia e na cultura digital. Os Objetos Educacionais Digitais aparecem como aliados nesse contexto. Eles poderão englobar jogos eletrônicos, videoaulas, apresentações interativas ou quaisquer outros conteúdos que tenham como finalidade facilitar a aprendizagem. 

A implementação da BNCC envolve todas essas mudanças que podem parecer trabalhosas, entretanto, é possível reaproveitar as estruturas já oferecidas pela escola. O que realmente é indispensável para trazer a BNCC para a prática é o desejo de renovação por parte de coordenadores e do corpo docente. A Base prevê justamente uma renovação, não apenas do conteúdo e das habilidades, mas também da atuação do professor em prol de uma educação direcionada para o hoje e para o futuro: sai de cena o detentor único do saber e entra o mediador, o tutor, que mostra caminhos, orienta e auxilia, mas deixa o aluno trilhar a sua via na construção do conhecimento.

Claudia Cristina Schwendler Koch – Pedagoga

Graduada em Pedagogia - Licenciatura

Pós Graduada em Gestão e Organização Escolar

Postado: Leila Ruver
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