O município tem 1.565 habitantes por médico
Crissiumal está entre as 415 cidades do Rio Grande do Sul, que estão com o número de médicos abaixo do recomendável, Crissiumal tem nove médicos para 14.085 habitantes. Tendo então 1.565 habitantes por médico no município de Crissiumal, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), agência ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), estabelece que o padrão mínimo satisfatório é de um médico para cada mil habitantes. Pois os dados do Conselho Regional de Medicina (Cremers) mostram um cenário pessimista para o Rio Grande do Sul, nesse sentido.
A se julgar pelo cadastro da entidade, apenas 81 dos 496 municípios gaúchos se enquadram dentro da média preconizada. Os outros 415 estão abaixo da média.
O município de Tucunduva espalhou em abril anúncios: procura-se médico (clínico geral) para atuar em consultas nas casas dos pacientes. A prefeitura oferece R$ 10.871,47 por 40 horas semanais de trabalho, além de possível contrato como plantonista no hospital da cidade. Até agora, a vaga continua em aberto.
— Um dos médicos que faziam essa função está se aposentando, e não conseguimos substituto. O pessoal prefere trabalhar nos grandes centros — desabafa o secretário municipal da Saúde em Tucunduva, Jaimir Chaves.
A comunidade de Tucunduva até pode se conformar, porque conta com alguns médicos residindo no município. Zero Hora pesquisou o cadastro do Cremers e os números apontam que 157 pequenos municípios gaúchos não têm médico que more na cidade, apenas contratados para o dia. Ou seja, se uma doença grave ou acidente aparece no meio da noite, a saída do paciente é pegar estrada até outra cidade.
A situação só não é muito grave graças a dois fatores. O primeiro é que a maioria desses municípios carentes de médicos fica próxima — por vezes, ao lado — de grandes cidades dotadas de numerosa assistência médica. É o caso de Passo Fundo, Santa Maria e Porto Alegre, que têm especialistas suficientes para atender a dezenas de localidade vizinhas.
Outro atenuante é que a maioria absoluta dos 11 milhões de gaúchos reside em grandes polos regionais como os citados, justo os melhor assistidos no quesito médicos.
Deve-se levar em conta, ainda, que o cadastro do Cremers apresenta algumas distorções, já que os médicos nem sempre atualizam os dados a respeito de onde clinicam e residem.
Mesmo assim, basta rodar um pouco pelas estradas gaúchas para perceber que faltam médicos. Por quê? O fenômeno se parece com o do êxodo rural. Depois de formados, profissionais oriundos de pequenas localidades têm um sonho: clinicar numa grande cidade.
Buscam as metrópoles, seja porque a especialidade escolhida não teria clientela numa pequena localidade — o que faria um traumatologista numa cidade com 2 mil habitantes e zero acidente por ano? — seja porque o novo médico gosta de conforto inacessível em pequenos lugares. Isso explica por que Porto Alegre tem média de um médico para cada 119 habitantes — um luxo, quase nove vezes o padrão ONU.
O presidente do Cremers, psiquiatra Rogério Aguiar, diz que o cadastro da entidade evidencia como os médicos estão mal distribuídos no território gaúcho. Ele atribui isso a causas variadas: os jovens formandos não querem abandonar as "luzes da cidade" e exigem bons equipamentos no local de trabalho.
— Até dispensam bons salários, se puderem ficar numa cidade grande. O Conselho vive recebendo pedidos de prefeituras, carentes de médicos — conclui.
Postado: Douglas Atkienson
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