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Leite - 16/10/2019 - Produtores pedem apoio do Piratini para anular normativas do governo federal sobre leite


Mais de mil pessoas participaram de manifestação na manhã desta terça-feira

“Queremos permanecer no campo, queremos preço justo. Queremos sentar com o governador do Estado para falar sobre o que acontece no campo”. Foi nesse tom que os produtores rurais protestaram contra a crise do leite, na manhã desta terça-feira, em Porto Alegre. O grupo saiu em caminhada da Superintendência Regional do Ministério da Agricultura (Mapa), no Centro Histórico, onde se concentraram ainda nas primeiras horas da manhã, para seguirem até a Assembleia Legislativa. Lá, no Teatro Dante Barone, participaram de uma audiência pública para debater as Instruções Normativas 76 e 77 e puderam discutir com os parlamentares a insatisfação com o preço do leite.

As medidas tratam, respectivamente, das características e da qualidade do produto na indústria; e da definição de critérios para obtenção de leite de qualidade e seguro ao consumidor e que englobam desde a organização da propriedade, suas instalações e equipamentos, até a formação e capacitação dos responsáveis pelas tarefas cotidianas, o controle sistemático de mastites, da brucelose e da tuberculose. O objetivo dos produtores é anular a legislação. “A normativa veio para quebrar os agricultores e fortalece a indústria. Precisamos que os agricultores sejam favorecidos, para que não saiam do campo. Não está fácil. Para nós, pequenos agricultores, nós da reforma agrária vai se tornar impossível”, desabafou o presidente da Central dos Assentados da Reforma Agrária, Adelar Pretto.

Pretto apelou para que o governador do Estado conheça a situação dos assentamentos, dos pequenos e médios agricultores. “Achamos que governador tem que entrar nessa conosco para que o que foi proposto seja revogado. Cerca seis mil famílias assentadas no estado produzem mais de 120 milhões de litros de leite ao ano", diz, ressaltando que buscam um horário na agenda e pretendem entregar ao chefe do Executivo, Eduardo Leite, um documento com uma síntese da audiência, cobrando o envolvimento do governo gaúcho diante dos problemas enfrentados na cadeia produtiva do leite.

“Os pequenos e médios agricultores que atuam na produção leiteira, segundo dados da Emater, precisarão abandonar o setor do leite, porque as normativas vão impossibilitar o trabalho”, ponderou.  Os números da Emater apontam que em 2015 havia 198 mil produtores de leite. Já em 2017 foram contabilizados 19 mil a menos. Pretto frisou que muitas famílias venderam bens para que pudessem investir na cultura, precisaram se estruturar e, com a crise financeira, a maioria não terá condições de fazer a inversão de produção. “Muitas deixarão o campo. Não queremos isso”, expressou.

Especialistas, representantes dos assentamentos e cooperativas falaram durante a sessão que ocorreu com plateia lotada na Assembleia. “Além de empregar famílias no campo, a produção do leite contribui para o Estado. O preço também não está compensando, o custo da produção é basicamente o que o produtor ganha no final. Está empatando”, destacou. Até 2017, conforme dados da Emater, a produção ocorria em 491 dos 497 municípios. O que corresponde a 2,81% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo o Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado. O resumo da audiência será encaminhado ao Ministério da Agricultura do Governo Federal. “Queremos que o Eduardo Leite assine conosco o encaminhamento, anulando as instruções normativas. O governador não pode fazer de conta que não é com ele”.

Representantes dos quatro cantos do Estado estiveram no ato na Capital. Pretto saiu de Piratini junto com outros produtores e demonstrou preocupação com o que poderá acontecer no futuro. Entre as preocupações está a mudança na temperatura máxima permitida para o leite chegar ao estabelecimento industrial. Com as novas regras, caiu de dez para sete graus. Ele conta que, na cidade onde vive, o caminhão chega a fazer 200 quilômetros para chegar até o destino final. “O leite não chega com menos de 8 graus no inverno e a temperatura aumenta no verão. Com as normas antigas nem produtor, nem consumidor tiveram problemas. Nunca vi o leite fazer mal”, destacou.

 

União contra a normativa

Cerca de mil produtores de leite participaram da caminhada. Com faixas, cartazes, caixas de leite e duas vacas, reforçaram durante o percurso até o Legislativo que não são contra medidas que tratam do controle da qualidade do leite. No entanto, alegam que essas normativas, publicadas em novembro de 2018 pelo governo federal, inviabilizam a produção dos pequenos e médios produtores. As normas especificam os padrões de identidade e qualidade do leite e estabelecem várias alterações na forma de produzir, coletar e armazenar o produto.

A mobilização reuniu produtores ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Federação dos Agricultores na Agricultura Familiar (Fetraf) e Federação dos Trabalhadores na Agricultura no RS (Fetag). A proposta foi feita pelos deputados estaduais Edegar Pretto, Jeferson Fernandes e Zé Nunes, do PT; Elton Weber (PSB); Edson Brum (MDB); e a subcomissão do leite da Câmara Federal. A atividade reuniu técnicos do setor e representantes de cooperativas e instituições públicas.

Fonte: Correio do Povo

Postado: Leila Ruver
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