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Texto de Opinião - 12/04/2017 - A importância dos limites na educação


Texto produzido pela professora Rosicléia Rodrigues Lippert

Encontra-se cada vez com mais frequência, em sala de aula, no dia-a-dia, há crianças a espera que algo lhe seja proibido para que possam transgredir. Qualquer lei, mandamento ou regra, as quais possam desobedecer ou infringir, representa para muitos destas crianças, um atrativo para que possam marcar sua presença e fazer-se notar como indivíduo. Através da transgressão a criança busca sua identidade. A agressão é parte do desenvolvimento normal e a transgressão é necessária para o desenvolvimento da identidade, então os limites são fundamentais para a obtenção do equilíbrio. A agressão pode ser manifestada em forma de provocação, insultos, ofensas, chegando ao extremo da investida física com ferimento, surra, demonstração de violência e maus tratos.

Na sala de aula a agressão significa em certos casos, por exemplo, quando um aluno agride algum colega sem motivo, ou nega-se a cumprir as normas, uma busca de limites e atenção. O gesto agressivo do jovem é uma necessidade de reivindicar por seus objetivos, buscar a comunicação, de se fazer notar. Observando-se o comportamento de alguns jovens em sala de aula percebe-se certo grau de irritabilidade gratuita e desnecessária, podendo lançar sobre qualquer colega um insulto ou ação maldosa sem maiores motivos ou justificativos. Isto ocorre inclusive em relação aos professores, pelos quais os jovens muitas vezes demonstram desagrado e desprazer em colaborar ou seguir as normas estabelecidas.

Por sua vez, o professor precisa fazer o seu papel, procurando manter a ordem e a disciplina, cobrando a obediência às regras e normas do grupo ou da escola, mas também tem o dever de compreender e interpretar estas manifestações, buscando dar segurança ao jovem, para que obtenha um equilíbrio em suas ações. Na sala de aula os professores representam muitas vezes uma segurança para alguns alunos que se sentem perdidos e desamparados, sem limites. A criança que não teve momentos de carinho, limite e equilíbrio no seio familiar buscamos na escola. Por isso o professor não deve deixar impune uma agressão, pois a melhor forma de demonstrar afeto por um aluno é saber dizer-lhe não na hora certa. O jovem deve ter em mente que toda regra estabelecida ou limite imposto deve ser respeitado.

Porém não basta apenas cobrar e castigar a criança, é muito importante dar atenção a um aluno que está perdido, bagunçando, transgredindo normas, mesmo que seja lhe outorgando alguma tarefa, ou seja, algum trabalho a concluir em prazo determinado, que lhe exija responsabilidade na execução, pois assim estaria demonstrando que se percebe sua existência, que se preocupa com ele e que este é importante no meio ao qual pertence.

Assim, se estaria ajudando na formação de sua identidade, e estimulando sua capacidade de tornar-se um indivíduo realizado e confiante.

O professor hoje em dia não pode ser mais apenas um transmissor de conhecimentos e sim um amigo, companheiro, educador, orientador para exercer com sucesso sua função de construtor de conhecimentos. Deve servir como um referencial seguro no qual o jovem possa se apoiar deve representar uma figura significativa de referência, ou seja, alguém que exprima com clareza informações e diretrizes, tão necessária ao sujeito em formação. Os professores também são pessoas importantes para os adolescentes se identificarem e, nesse sentido, têm uma participação essencial no processo. A maioria das pessoas adultas é capaz de lembrar-se de professores importantes, com os quais se identificou da mesma forma que daqueles com os quais buscou ser completamente diferente.

Muitos pais e educadores temem ao impedir os filhos ou alunos de satisfazer determinadas vontades, estar contrariando boas e até sábias opções. Os adultos de hoje não têm mais tanta certeza, não sabem mais ao certo quais os caminhos que levam seus filhos à felicidade. Talvez, por isso, colocam-lhes menos limites. Esta omissão pode tratar-se de uma posição covarde, pois deixando de assumir a responsabilidade pelo direcionamento dos filhos ou alunos, pais e educadores estarão abandonando-os à própria sorte e jogando a responsabilidade por qualquer “erro” ao próprio jovem. O não estabelecimento de limites pode tanto ser prova de humildade como descompromisso em relação aos filhos e ao futuro do mundo. Muitos jovens hoje acabam se queixando da posição ausente de seus pais e educadores, pois estes enfrentam o dilema de como dar liberdade aos filhos, aos alunos, sem ser ausentes e omissos, sem abandonar o papel de adulto, de guia. Temendo serem intolerantes ou injustos muitos adultos hesitam a respeito da imposição de limites as crianças.

Esta falta de limites gera um problema que está presente de maneira muito acentuada nas famílias, nas escolas e em qualquer instituição de ensino, que é a dificuldade de mostrar às crianças a importância da obediência às normas e o respeito à moral e a ética. Isto acarreta muitas vezes, problemas de identificação das crianças, dificuldade de diálogo, desvios de condutas, busca de refúgio nas drogas e outros tipos de vícios.

No trabalho cotidiano em sala de aula, é possível presenciar, diariamente, cenas de indisciplina das crianças e questionamentos às regras da escola. Algumas escolas têm como princípio educacional o “é proibido proibir” e as crianças tornam-se verdadeiras “donas” de suas atitudes deixando os professores com poucos recursos para impor sua autoridade.

 Crianças excessivamente inquietas, agitadas, com tendências à agressividade, se destacam no grupo pela dificuldade de aceitar e cumprir as normas, às vezes, não conseguindo produzir o esperado para sua idade. Estas crianças representam um desafio para suas famílias e escola, cabendo a estes estabelecer os métodos de orientação mais condizentes a cada situação e estabelecer os níveis de regimes necessários para obtenção da disciplina.

A escola enfrenta hoje em dia grandes dificuldades para estabelecer normas aos jovens, revelando-se uma instituição em crise gerada talvez pela negação ao diálogo e a impossibilidade de alcançar uma integração entre jovens e adultos no interior da sociedade.

Colocar limites ao comportamento do educando continua a ser muito importe para o desenvolvimento da personalidade e para a formação da cidadania. Porém não o limite no sentido negativo, lembrando “repressão” proibição, mas sim no sentido da criação de um espaço protegido dentro do qual o jovem poderá exercer sua espontaneidade sem receios e rico. Faz-se necessário na escola, o estabelecimento de regras as quais serão cobradas e cumpridas por todos, evitando que o professor responda sozinho pelo comportamento do aluno, e que ao mesmo tempo possibilite que o aluno sinta-se seguro e orientado nas atitudes que deverá tomar tendo consciência do comportamento desejado e por seus educadores.

O papel da família na educação das crianças é fundamental. A criança traz para a escola valores que já está estabelecida por sua família e pela sociedade a qual pertence. Portanto, se desrespeitar os professores, brigar na escola, agredir os colegas, desvalorizar o ensino e a educação, não representa para a família um valor, a criança não sentirá culpa por seu comportamento indesejável, pois sente vergonha daquilo que para ela não representa um valor. 

Texto da professora Rosicléia Rodrigues Lippert, professora de Educação Infantil, Séries Inicias e graduada em Pedagogia.

Postado: Clécio Marcos Bender Ruver
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