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Saúde - 06/12/2018 - Depressão: O Mal do Século


Por Guilherme Caneppele Ullmann, psicólogo

Possivelmente você já tenha ouvido falar que a depressão é o mal do século, será mesmo? Bem, vamos aos números. Segundo dados da Organização mundial da Saúde, a quantidade de casos cresceu 18% nos últimos 10 anos, sendo que até 2020 se tornará a doença mais incapacitante do planeta.

Sendo a principal causa de suicídio, a doença afeta mais de 300 milhões de pessoas no mundo (OMS) cerca de 4% da população, no Brasil os dados são ainda mais alarmantes, quase 6%. Sendo uma doença bastante “democrática”, afeta todas as classes sociais e etárias, apesar de ter uma prevalência maior entre mulheres. Mas a boa notícia é que tem tratamento.

A depressão é um transtorno de humor e seu diagnóstico é estritamente clínico, tomando por base os sintomas descritos pelo paciente. Apesar de sintomas e sinais em comum, existem vários tipos de depressão que podem variar em intensidade, duração, gravidade, momento de aparecimento entre outros. Levando em conta que cada subtipo de depressão requer um tratamento diferente, o diagnóstico deve ser feito por um profissional da saúde, pois o tratamento pode tomar rumos diferentes conforme as especificides do caso. 

Em relação aos sintomas, é importante destacar que tristeza não é depressão, é apenas um dos sintomas da doença. A tristeza faz parte da vida, tão parte quanto à felicidade, então toda pessoa vai passar por momentos de angústia e tristeza e é isso que a torna humana, a depressão é muito mais do que isso. Entre os sintomas além da já citada tristeza, podem surgir outros como desânimo, apatia, perda de interesse por atividades que antes geravam prazer, alterações no sono, alterações de apetite, falta de energia, irritabilidade, diminuição da libido, sentimentos de culpa, inutilidade, inadequação, desamparo, desesperança, dificuldade de tomar decisões, de concentração e de memória, sintomas físicos como dores ou tensões. Muitos pacientes relatam uma incapacidade de sentir, um sentimento de vazio inexplicável, uma vontade de fugir, mesmo que ela não saiba de que ou para onde.

O que vai definir o diagnóstico vai ser a quantidade dos sintomas e sua intensidade, por isso, o mesmo deve ser feito por um profissional qualificado uma vez que a partir dele vai se definir um plano de tratamento. Assim não vale opinião da vizinha ou do Google, pois o tratamento ideal para um, pode não ser o ideal para outro. Então caso você ou alguém que conheça se identifique com alguns desses sintomas, procure um profissional da área da saúde, não existe vergonha alguma em fazê-lo.

Lembrando que em Crissiumal a porta de entrada dos serviços no âmbito do SUS são os ESF´s, para mais informações, entre em contato com seu agente de saúde.

 

E quais as causas desse aumento nos diagnósticos?

O mundo nunca foi um lugar tão fácil e tão bom de se viver, nos mais variados aspectos, não é preciso conversar com pessoas com muito mais idade  para descobrir as dificuldades que enfrentavam, hoje inimagináveis. Então é inegável o aumento na qualidade de vida das pessoas, no entanto a incidência de doenças mentais não para de aumentar, como explicar esse paradoxo?

O mundo mudou muito em pouco espaço de tempo, as novas tecnologias transformaram nossa forma de viver, grandes pensadores do passado como Freud, Nietzsche, Rousseau, Kant (cite aí seus preferidos) viveram e formaram soluções para um mundo diferente do nosso, então esse é um abacaxi que nós contemporâneos teremos que descascar. 

A felicidade é uma invenção moderna e certamente não estava entre as principais preocupações das gerações anteriores, repare nas fotos em preto e branco, são raras as pessoas que aparecem sorrindo. O trabalho era visto como uma obrigação, com a única finalidade de gerar sustento para a família, buscar realização e propósito? Mais uma invenção moderna...

Será que essa busca constante pela felicidade está causando justamente seu oposto? Será que essa mudança no sentido do trabalho e do significado dele em nossas vidas está provocando o oposto do esperado? Será que a tecnologia está nos afastando?

Sendo um otimista incurável, acredito que se  existem mais doenças mentais diagnosticadas  na atualidade é porque também existem mais pessoas que não admitem viver pela metade e vão buscar ajuda, se existem mais tratamentos é porque existem mais profissionais empenhados em diminuir o sofrimento alheio. Para cada pessoa que tira sua vida, existem milhares que compreenderam o sentido das suas vidas e estão vivendo o ápice de suas existências. Para cada pessoa sofrendo por alguma doença mental existem centenas sendo tratadas e levando uma vida satisfatória. Para cada pessoa isolada do mundo pelas redes sociais, existem centenas interagindo apesar das distancias, sorrisos e sentimentos que rompem barreiras geográficas. Então, não penso que a incidência de doenças mentais tenha aumentado, o que cresceu foi nossa capacidade de identificar e tratar essas patologias que antes eram negligenciadas ou confundidas. 

Deveríamos ser gratos por  viver em um século em que o sofrimento seja ele físico ou mental é considerado um mal. Difícil mesmo deve ter sido viver em uma época em que o nazismo e o comunismo eram o mal do século, em um tempo onde a escravidão era o mal do século, em uma época em que a “santa” inquisição queimando “bruxas” era o mal do século. Reconhecer a depressão como uma doença e um mal só mostra o quanto evoluímos enquanto sociedade.

Repito, o mundo nunca foi um lugar tão fácil e tão bom de se viver. Então se você acha que alguma coisa precisa mudar nele, talvez a mais urgente seja a sua forma de vê-lo.  E para aqueles que ainda acreditam que a vida está mais difícil, digo que talvez não seja a vida que esteja mais dura, mas sim as pessoas que amoleceram...

Postado: Clécio Marcos Bender Ruver
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